A Indústria da Auto-Ajuda
Chamo de “Indústria da Autoajuda” toda regra simplificada, não de pensamento livre, seja referente a como viver em relacionamentos, profissão, atingir sonhos e outros.
Ela vem na forma de livros, “regras de ouro” em revistas e outros meios de comunicação. Vende e as causas básicas dessas vendas talvez sejam duas porque: refletir sobre a vida exige esforço doendo muitas vezes, sendo contra o instinto (buscar prazer e fugir da dor), e é difícil obter e entender materiais disponíveis para reflexões livres de dogmas e fantasias sobre a vida.
As causas para afirmar que a vida pode ter sentido nas suas coisas simples são complexas, até porque o simples não é, no caso, simplório, como seria a indústria em questão.
A amizade e amor são exaltados (embora, às vezes menos do que estética/ sexo e dinheiro/ poder/ status) enquanto sentido para a vida, mas quantos “amigos” conseguem sentar e conversar por horas sobre os seus medos, fraquezas, expectativas, dificuldades mútuas, sonhos, dores, alegrias, descobertas de si, crenças, e assim por diante.
Uma das maiores provas de coleguismo e não amizade é quando alguém está passando por uma situação difícil e o máximo , além de ser a única coisa que o então colega faz é ficar perto. Aristóteles propunha a noção de que a amizade era possível apenas entre dois sábios, definição questionável, embora bastante fértil.
O sentido da vida geralmente é apresentado nas reflexões chantilly : casar/ namorar, ter amigos, ter condições materiais, ser pai/mãe, produzir, ter saúde, manter a estética, ter vida social, ajudar o outro e assim por diante. Entretanto, na maioria das vezes, esquecem de perguntar quais as virtudes/reflexões necessárias para fazer aquilo que é proposto como a essência da vida.
Em outras palavras, “tenha a coragem de seguir os seus sonhos!” é uma “lei” da cultura brasileira. Questionar os sonhos para saber se valem é uma “heresia”, embora por vezes, essencial à vida.
De uma maneira geral é mais importante, dependendo da situação, aprender a perguntar do que responder e seguir as “soluções”, mas essa postura de reflexão e crítica é possibilitada pela Liberdade de Pensamento, isto é, tendo a noção de o quanto (complexidade ou nível) e no quê (área) determinado indivíduo conseguiu perceber as próprias ideias, aceitá-las e/ou criticá-las, quando necessário, criando novas possibilidades acerca de determinado conhecimento já não é mais uma Indústria da Autoajuda, até porque tende a doer inúmeras vezes.
Dr. Bayard Galvão
Psicólogo Clínico e Hipnoterapeuta